Quero ser breve...
Ao grande areal pesava apenas a presença de um casal, a cerca de 100m de nós, um outro casal a cerca de uns 200m, nós e do lado oposto um casal que caminha na nossa direcção, estavam ainda longe, não diria que ao ponto de parecerem duas formiguinhas, mas vinham ainda longe.
Tirámos os sapatos, as blusas e arregaçamos as calças. Fomos refrescar os pés, molhei as mãos e passei-as pelos braços e pelo rosto. Voltámos para junto das nossas coisas e sentámo-nos. Conversámos um pouco sobre as nossas férias, falámos sobre alguns planos de verão, rimos um pouco... O casal que vinha ao longe passa por nós junto ao mar, dirigindo-se para o casal a 200m.
Fomos novamente até junto da água, brincámos com a espuma que nos molhava as calças. Voltámos para as nossas coisas e voltámos a sentar.
Ao longe ouvíamos os risos dos dois casais que brincavam com a água, atiravam água uns aos outros. Sentiam-se felizes com toda a certeza, estavam frescos, isso era certo.
Decidimos subir para beber água fresca e recompormo-nos do calor. Levantamo-nos e vimos alguém a descer com alguma rapidez até à praia. Uma rapariga com alguma preocupação no rosto dirige-se aos dois casais que brincavam no mar.
Pegámos nas nossas coisas e decidimos subir. À nossa frente subiu a rapariga e uma outra a quem a primeira se tinha dirigido. Subiram sem preocupações, sem pressas.
Nós subimos também lentamente, tínhamos ficado lá em baixo cerca de uma hora e estava muito calor. A areia escaldava, a pele dos meus pés ficava queimada pelo calor da areia.
Ao subirmos vimos algum alarido, várias pessoas juntas num círculo escondiam alguém. Imaginamos que alguém se tinha sentido mal... Ao aproximarmo-nos perguntámos o que tinha acontecido. Com alguma revolta contaram-nos que os dois casais que estava a 200m de nós, lá em baixo na praia, a brincar, a rir, e refrescarem-se, tinham deixado a filha de uma das raparigas, uma menina de cerca de 3 anos, totalmente fechada no carro, durante cerca de uma hora. O carro encontrava-se totalmente fechado, incluindo as janelas, portas trancadas... "sabe Deus" a temperatura que estava lá dentro.
Por sorte a rapariga que foi lá a baixo apercebeu-se da menina dentro do carro que nessa altura e passada uma hora, ou mais, ainda conseguia chorar. Retiraram a menina do carro e tentaram recompô-la, deram-lhe água...
Foi nesta altura que nós chegámos. A mãe chegou passados uns 10 ou 15 minutos, aparentemente pouco preocupada, dirigiu-se para o carro e não para a filha.
As autoridades tomaram conta da ocorrência, pareceu-me que estavam a tratar aquele caso com a delicadeza de alguém que passa o sinal vermelho ou passa o radar em excesso de velocidade. Ao colocarmos a questão se iriam realizar análises ao sangue para despistar o consumo de álcool ou drogas responderam-nos "Para quê?". Está admirado/a caro/a leitor/a? Não esteja, porque as autoridades não sabiam sequer o que era a Comissão de Protecção de Crianças e Jovens. Àquelas pessoas possivelmente pareceu apenas um descuido, mas trata-se de um crime e um crime grave, não se trata apenas de um acto desumano, é crime!!!! E muito, mas muito mais grave que passar o vermelho. Não se diz a estes pais para se irem embora e terem mais cuidado da próxima vez, não se passa a mão pela cabeça de gente como esta. Pessoas como estas têm que ser punidas, têm que ser tratadas apropriadamente ao crime que cometem. Crianças como aquela menina merecem ser felizes e terem um lar, merecem serem cuidadas com amor e não serem "esquecidas" dentro do carro estacionado à “torrina” do sol.
Acho que não fui breve, mas queria partilhar esta mágoa com todas as pessoas que visitam este blog.
Bem-haja para a rapariga que ajudou aquela menina a viver...
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