"Fui à árvore, comi do fruto e levei-o a adão, que comeu também, Ficou-me aqui, disse adão, tocando na garganta, Muito bem, disse o senhor, já que assim o quiseram, assim o vão ter, a partir de agora acabou-se-lhes a boa vida, tu, eva, não só sofrerás todos os incómodos da gravidez, incluindo os enjoos, como parirás com dores, e não obstante sentirás atracção pelo homem, e ele mandará em ti, Pobre eva, (...)" (p.20)
"Um dia, a filha mais velha disse para a mais nova, O nosso pai está acabado, um destes dias morre-nos aqui, e por estes sítios não se encontra um único homem para casar connosco, a minha ideia é que embriaguemos o pai e depois durmamos com ele para que nos dê descendentes. Assim se fez (...)" (p.108)
"(...), Estou cansado da lengalenga de que os desígnios do senhor são inescrutável, respondeu caim, deus deveria ser transparente e límpido como cristal em lugar desta contínua assombração, deste constante medo, enfim, deus não nos ama, (...)" (p. 142)
"Houve um grande silêncio. Depois caim disse, Agora já podes matar-me, Não posso, palavra de deus não volta atrás, morrerás da tua natural morte na terra abandonada e as aves de rapina virão devorar-te a carne, Sim, depois de tu primeiro me haveres devorado o espírito. A resposta de deus não chegou a ser ouvida, também a fala seguinte de caim se perdeu, o mais natural é que tenham argumentado um contra o outro uma vez e muitas, a única coisa que se sabe de ciência certa é que continuaram a discutir e que a discutir estão ainda. A história acabou, não haverá nada mais a contar." (p. 181)
Excertos de "Caim" de José Saramago
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